segunda-feira, 14 de abril de 2008

Rondônia é destaque mais uma vez a nível nacional.

A ação da Polícia Federal acompanhou os passos de uma quadrilha que envolveu até um governador de estado no golpe dos carrões importados.
Dentro de um galpão estão dezenas de milhões de reais em forma de carros e motos importados. São super máquinas que chegam a valer R$ 2 milhões no Brasil. Super máquinas subfaturadas.
“30% a 40% menores aos preços de mercado”, diz a procuradora da República (ES) Nádja Machado Botelho.
A Justiça investiga a participação de um governador e do filho e do sobrinho dele na obtenção de facilidades para o esquema.
Nos vídeos e fotografias da investigação a que o Fantástico teve acesso, você vai saber como a Polícia Federal seguiu o filho do governador de Rondônia, Ivo Cassol, durante a chamada Operação Titanic, para desmascarar a quadrilha da sonegação.
“Em 2007 nós chegamos à enorme quantia de R$ 7 milhões de tributos devidos”, afirma o delegado Onazi de Paula Farias.
Esta semana, 23 pessoas foram presas. Entre elas, Ivo Júnior Cassol, o filho do governador, que foi liberado ontem pela Justiça, e o principal alvo da investigação. Ele é Adriano Scopel, dono da empresa Tag, que importava os carros dos Estados Unidos declarando valores falsos lá e aqui no Brasil.
Adriano se tornou conhecido nacionalmente em 2006, ao ser flagrado agredindo uma mulher depois de uma batida de trânsito. No mesmo ano, a Polícia Federal apreendeu seis carros de luxo que ele havia importado. Uma lancha que ele comprou do megatraficante colombiano Juan Carlos Abadía, capturado em 2007, também foi apreendida.
Agora, Adriano está novamente na mira da Justiça, ao lado de auditores da Receita Federal e servidores e políticos de Rondônia.
A sede da Tag fica na capital, em Porto Velho, mas a empresa de Adriano, que importa veículos e eletrodomésticos, funciona no Espírito Santo. O pai dele, Pedro Scopel, tem a concessão de uma área do porto de Vitória, que recebe as mercadorias.
A razão da Tag existir apenas em uma sala em Rondônia é simples: ela se beneficia de um desconto de quase 80%, que o estado concede para atrair empresas. Ou melhor, se beneficiava: no ano passado, o benefício foi suspenso.
“Daí surgiu toda uma movimentação da Tag aqui, a partir do Espírito Santo, e junto aos seus comparsas em Rondônia, para recuperar esse benefício suspenso”, explica a procuradora Nádja Machado Botelho.
Adriano tentou usar um ex-senador para obter o desconto de volta.
Segundo a Justiça, o ex-senador Mário Calixto Filho recebeu propina alta de Adriano. Em um vídeo da inteligência da Polícia Federal, dois funcionários de Adriano entram na empresa do ex-senador. Um deles carrega uma bolsa. Momentos depois, o funcionário sai da empresa de mãos vazias.
Mas o ex-senador enganou o empresário. Em mensagem eletrônica interceptada pela polícia, Adriano afirma: “Que papelão. Ele vai ter que me pagar, foram R$ 202.000 na conta dele”.
Adriano Escopel gosta mesmo de carros, a tal ponto que se reuniu com um auditor da Receita Federal dentro de um modelo bem mais popular do que os automóveis que ele vende.
Tanto o auditor quanto o ex-senador foram presos na Operação Titanic.
Mas o esquema do benefício fiscal em Rondônia continuava emperrado. Adriano se aproxima então de Ivo Júnior Cassol e de seu primo, Alessandro Cassol Zabot, que é funcionário público. Primeiro, ele gasta quase R$ 30 mil para levar os dois e um amigo ao Grande Prêmio de Fórmula 1 em São Paulo, na área mais nobre do evento.
Depois, Adriano leva Ivo Júnior e uma acompanhante a um dos restaurantes mais caros do Rio de Janeiro. A polícia monitorou o encontro.
Por fim, Ivo Júnior e seu pai, o governador de Rondônia, tomaram café da manhã com o empresário, também no Rio. E a polícia também estava lá. O governador nega qualquer favorecimento ao empresário.
“Ele queria montar uma montadora de moto no município de Guajará-Mirim, que é uma área de livre comércio no estado de Rondônia. O encontro foi propositalmente para isso, nada mais além disso”, justifica o governador de Rondônia Ivo Cassol.
O delegado que investiga o caso, Onazi de Paula Farias, diz que o objetivo era outro: “Aquela reunião era justamente a obtenção da reativação dos benefícios fiscais da Tag. Verificamos que posteriormente ele obteve êxito nessa empreitada”.
O governador diz que não houve tratamento diferenciado e que seu filho não intermediou o pedido de benefício.
“O meu filho cuida das empresas da família, cuida das empresas do grupo. É uma pessoa íntegra, uma pessoa humilde, uma pessoa honesta”, defende Ivo Cassol.
Para a Justiça, Ivo Júnior ajudou a empresa de Adriano a conseguir o benefício.
O Ministério Público Federal investiga se Adriano e seus comparsas cometeram falsidade ideológica, crime contra o sistema financeiro, corrupção ativa e passiva e formação de quadrilha.